A falta de insumos básicos nas unidades da rede municipal de saúde de Campos dos Goytacazes voltou a preocupar pacientes e servidores. Faltam luvas, seringas, gaze, esparadrapo e até medicamentos simples, o que tem comprometido atendimentos e procedimentos de rotina.
Em hospitais e postos de saúde, enfermeiros relatam improvisos diários e adiamento de curativos por falta de material. “Muitas vezes precisamos dividir uma caixa de luvas entre setores. Isso coloca todos em risco”, contou uma servidora.
A Secretaria Municipal de Saúde alega que novos contratos estão em fase de regularização, mas profissionais afirmam que o desabastecimento se arrasta há meses. Enquanto isso, pacientes continuam enfrentando filas, reagendamentos e a sensação de descaso com a saúde pública do município.
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É com profunda preocupação e indignação que se observa a reincidência do problema de escassez de insumos básicos nas unidades de saúde da rede municipal de Campos dos Goytacazes, conforme veiculado. A notícia não se limita a descrever uma dificuldade logística; ela expõe, de forma cristalina e dolorosa, uma crise humanitária e de gestão que se perpetua, ferindo o direito fundamental à saúde e atestando uma lamentável falta de vontade política em honrar o compromisso com a população.
O panorama delineado – falta de luvas, seringas, gaze, esparadrapo e medicamentos simples – transcende o mero transtorno administrativo. A ausência de materiais essenciais impõe aos servidores a indignidade do improviso diário, uma prática que não apenas compromete a qualidade e a segurança dos atendimentos, mas também coloca em risco tanto o paciente quanto o profissional. A denúncia da servidora sobre a necessidade de dividir caixas de luvas entre setores é um testemunho eloquente da precariedade e do potencial aumento de risco de infecções, configurando uma grave violação dos protocolos mínimos de biossegurança.
A justificativa da Secretaria Municipal de Saúde, que alude à "fase de regularização de novos contratos", soa como uma resposta protocolaresca e insuficiente, especialmente quando os próprios profissionais atestam que o desabastecimento se arrasta por "meses". Tal morosidade e ineficácia na gestão de suprimentos vitais sugerem não um percalço pontual, mas sim uma descontinuidade crônica e uma falha estrutural no planejamento e execução orçamentária. A saúde pública não pode ser refém de uma burocracia lentificada ou de um ciclo vicioso de desorganização licitatória.
É crucial sublinhar que a persistência desses "problemas" reflete uma profunda mazela de cunho político-administrativo: a falta de prioridade e de vontade política em investir de forma contínua, eficiente e transparente na espinha dorsal do Sistema Único de Saúde (SUS) municipal. A saúde, enquanto pilar do bem-estar social, deveria figurar no topo da agenda pública, com recursos e gestão alocados de maneira a garantir o fluxo ininterrupto e a qualidade dos serviços.
O resultado dessa inação política é a manutenção de um cenário de filas, reagendamentos e, sobretudo, a sensação de descaso que se instala na consciência do cidadão campista. O paciente, já fragilizado pela doença, é duplamente penalizado pela ineficiência do Estado, tendo seu direito à dignidade e à assistência negados.
O presente quadro exige mais do que notas de esclarecimento: demanda uma ação corretiva urgente, transparente e responsabilizadora. É imperativo que as autoridades demonstrem, na prática, o compromisso ético e legal com a saúde, sanando o desabastecimento de forma imediata e implementando mecanismos de gestão que previnam a reincidência desta vergonhosa situação. O povo de Campos dos Goytacazes merece e exige um serviço de saúde que seja, no mínimo, seguro e funcional.
Assinado: Juliano Toledo