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04/11/2025 16:31 | Colunistas
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por Aline Borges

O Peso que Carregamos: Estratégias para Aliviar a Carga da Dor Crônica

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Existe uma solidão que mora dentro de um corpo que dói. É a solidão de quem ouve um "mas você não parece doente". No Brasil, milhões carregam esse peso silencioso, inclusive eu. E se a gente parasse de buscar apenas a cura para começar a buscar o conforto?

Os números revelam uma epidemia silenciosa. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 1 em cada 5 pessoas no mundo convive com dor crônica. No Brasil, o IBGE mostra que isso afeta quase 30% da população adulta – mais de 57 milhões de pessoas, sendo a maioria mulheres (34,1%).

São dores que persistem por meses, anos, roubando o sono, o trabalho e a serenidade, em um ciclo vicioso de sofrimento.

A "cura" talvez não exista, mas a ciência do manejo da dor avançou. O objetivo deixa de ser eliminar 100% a dor e passa a ser: como viver bem, apesar dela?

Abaixo, estratégias validadas que podem iluminar esse caminho:

1. Autoconhecimento como Bússola: O Diário da Dor
Anotar diariamente a intensidade da dor, atividades, humor e sono não é frescura; é ciência. Em semanas, padrões surgem, revelando gatilhos específicos. É a ferramenta mais poderosa para retomar o controle.

2. Movimento como Remédio: Atividade Gentil
A imobilidade é inimiga. Exercícios de baixo impacto – como caminhada, hidroginástica ou pilates (sempre com aval médico) – liberam endorfinas, nossos analgésicos naturais, e fortalecem a estrutura corporal. O segredo é a regularidade, não a intensidade.

3. Mente como Aliada: Acalmando o Sistema de Alarme
Estresse e ansiedade amplificam a dor. Técnicas como respiração profunda, mindfulness e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ajudam a "desligar" os alarmes de perigo que o cérebro dispara incessantemente, mudando nossa relação com a dor.

4. Sono como Prioridade: Quebrando o Ciclo
A dor atrapalha o sono, e o sono ruim piora a dor. Criar um ritual noturno – horário regular, quarto escuro e sem telas – é quebrar um elo crucial nesse ciclo. Sono reparador é um analgésico esquecido.

5. Rede de Apoio: A Força da Multidisciplinaridade
Não se pode carregar esse peso sozinho. O caminho de ouro envolve uma equipe: médico da dor, fisioterapeuta, psicólogo e nutricionista. Cada um cuida de uma faceta do problema. E sim, a escrita terapêutica pode ser parte vital dessa rede – um caderno é um amigo que nunca julga.

E Quando Não Há Solução? A Arte de Conviver.

Se a dor é uma companheira constante, a meta muda. Não é sobre vencer, mas sobre se adaptar.

· Dosagem de Energia (Pacing): Administre sua energia como uma conta bancária. Em vez de gastar tudo em um "dia bom", fracione as tarefas. É a prevenção mais sábia contra as crises.
· Vida Além da Dor: Encontre prazer no que ainda é possível: audiobooks, pintura, encontros breves. Mude o foco da limitação para a possibilidade.
· Aceitação Ativa: Aceitar não é se render. É reconhecer a realidade sem travar uma guerra exaustiva contra ela. Pratique a autocompaixão: "Estou fazendo o meu melhor hoje".

Viver bem com dor crônica não é uma traição de si mesmo, mas a mais pura forma de resistência. É aprender a dançar com a música da vida, mesmo quando a melodia é uma queixa constante. É encontrar a beleza nos intervalos do desconforto.

Fontes confiáveis para se aprofundar: Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED) e associações de pacientes específicas.

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💬 Comentários


Andrea Abreu de Almeida em 04/11/2025 23:02

Excelente reflexão, Aline.

Eliza Câncio em 04/11/2025 17:48

Não é sobre dor...Mas sobre superação. As sequelas da SGB no meu caso,foram mais sensoriais do que doloridas. Uma vez falei assim: Não sinto mais dor,mas uma moça que é expert nisso,falou assim: _Calma,ela voltará! Como voltou ontem,uma dor fina,aguda por entre os nervos dos pés. Você estava certa mais uma vez. Esporadicamente ela volta,seja em épocas estressantes e ansiosas,mas sobretudo para me fazer entender: Não é sobre dor,mas é resiliência!

Geronimo em 04/11/2025 17:12

Esse texto é profundamente humano e necessário. Ele faz o que muita gente que vive com dor crônica passa anos tentando explicar: não é apenas sobre sentir dor — é sobre viver em um corpo que cansa, que pesa, que limita, e ainda assim ser esperado a “funcionar” normalmente.

A sensibilidade em deslocar o foco da “cura milagrosa” para o conforto, para a qualidade de vida, é poderosa e realista. Fala de autonomia, de dignidade, de um jeito de existir que não seja medido apenas pela ausência de dor, mas pela capacidade de encontrar sentido apesar dela.

Deivson Mendes Pereira em 04/11/2025 17:01

Ola! Aline trouxe a tona um tema que gera um questionamento recorrente para nós que vivemos com o diagnóstico de dor crônica. Remete a expressão "quem vê cara não vê coração".