A morte de Luana, moradora de Quilombo, vítima de um engasgo enquanto familiares lutavam desesperadamente por socorro, é mais do que uma tragédia individual: é o retrato brutal de um sistema que falhou — e continua falhando — com centenas de moradores das regiões mais afastadas de Campos dos Goytacazes.
A ausência de ambulâncias em localidades rurais e distritais como Quilombo, Imbé, Farol, Morangaba, Ibitioca, Serrinha, Santo Amaro, Mussurepe, Lagoa de Cima e Tocos tornou-se uma rotina perigosa. Uma rotina que custa vidas. Uma rotina que transforma urgência em risco e desespero.
Na madrugada, quando o silêncio domina e o tempo parece mais lento, a falta de socorro se torna ainda mais cruel. Famílias inteiras precisam improvisar: corpos frágeis são colocados em carros comuns, motos e caminhonetes, na tentativa de vencer a distância até os hospitais da cidade. É um percurso marcado por choro, ansiedade e uma pergunta que queima:
e se o socorro tivesse chegado a tempo?
No caso de Luana, essa pergunta não encontrará resposta — e isso deveria envergonhar qualquer gestão pública. A ausência de ambulâncias e equipes de emergência suficientes não é acidente, não é exceção, não é azar. É negligência. É falta de planejamento. É o retrato de um município que não distribui seu serviço mais básico: salvar vidas.
Campos, com sua imensa extensão territorial, não pode continuar operando como se todo o município coubesse dentro do Centro. A saúde pública não pode ser centralizada quando a vida das pessoas não é.
A morte de Luana não pode ser tratada como um número. É um alerta. Um limite. Um basta.
Quando o poder público falha, coloca famílias em posição de responsabilidade que não é delas. Coloca moradores em travessias perigosas. Coloca vidas em risco. E, como vimos em Quilombo, pode tirar o que não pode ser devolvido: o direito de viver.
Chegou a hora de olhar para as franjas do mapa com a mesma importância dada ao coração da cidade. Chegou a hora de garantir ambulâncias, bases descentralizadas, equipes capacitadas e atendimento real — não promessas.
Porque, no final, entre a vida e a morte, a diferença pode ser apenas um minuto.
E em Campos dos Goytacazes, esse minuto está faltando.
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