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04/12/2025 20:44 | Colunistas
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por Aline Borges

Ombros Fortes

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Eram 11h24 de uma manhã comum. Não é meu horário de escrita — costumo habitar as madrugadas, onde o silêncio é meu cúmplice. Mas ali, rezando com o padre Marlon Múcio, as palavras não vieram como poesia. Vieram como súplica. Escrevi como quem respira: “Senhor, me dê uma vida reta…” E então entendi: não era apenas uma oração. Era um artigo de opinião sobre a dor, a fé e a arte de plantar cruzes em terras férteis.

A vida reta que peço não é uma vida perfeita, imune a dores ou quedas. É uma vida que, mesmo diante dos obstáculos, não desiste d’Ele. Porque Jesus é o caminho, a verdade e a vida — e uma vida reta é aquela que, mesmo arrastada, machucada e cansada, não abandona a estrada. Não se trata de perfeição moral, mas de direção espiritual. É a diferença entre quem segue e quem apenas vagueia.

O horário fez toda a diferença. Geralmente, às 11h24, estou imersa na correria materna: vigiando o almoço, organizando a mochila do Dudu para a escola. Mas naquele dia, ele estava de folga. E o tempo — esse bem tão escasso — fez uma pausa para respirar comigo. O padre Marlon pediu que escrevêssemos uma frase nos comentários: “Jesus, me dê uma vida reta.” Mas algo dentro de mim sussurrou: “Escreva mais.” E o texto fluiu sozinho, como um rio que já conhece seu leito. Meus dedos deslizaram sobre as teclas formando o que parecia menos um texto e mais uma prece.

E se a vida reta é a que persevera, então a cruz não é um desvio: é parte do caminho.
Não pedi a Jesus uma cruz mais leve, nem que a tirasse de meus ombros. Pedi forças para carregá-la até terras férteis. Porque uma cruz plantada com amor não é símbolo de morte, mas de renascimento. No deserto da dor, carregamos no lombo o que um dia será semente. E a semente só frutifica se morrer primeiro. É da luta com o peso que nascem as asas.

Quantas vezes, em minha jornada de saúde limitada, de dores crônicas e dias em que o corpo pedia cama, me vi carregando uma cruz que parecia absurdamente pesada e maior que eu?
E no entanto, era ela, com seu peso, que me ensinava a andar mais devagar, a respirar fundo, a enxergar o invisível, a escrever o que não cabia no grito. A muleta Maria e os livros — essas muletas da alma — são cruzes transformadas em instrumentos de travessia.

E então vem a promessa, que firmo com Deus e comigo:
“Prometo me manter firme na fé e, mesmo diante dos obstáculos, não desistirei quando tropeçar, pois sei que Tua mão estará lá para me levantar.”
Tropeçar não é fracassar; é condição de quem caminha. E a mão que se estende não remove a pedra, mas transforma o tombo em aprendizado. É essa mão — divina, paternal, firme — que me permite, no escuro total, continuar.

Por isso, não peço cruzes mais leves.
Peço ombros mais fortes.
Não peço desertos mais curtos, mas pés mais resistentes.
E, sobretudo, peço sabedoria para reconhecer, no árido da vida, o lugar onde minha cruz pode ser fincada — e de onde brotarão não flores perfumadas, mas cactos resistentes, raízes profundas e histórias que só a dor é capaz de escrever.

A vida reta não evita o calvário.
Ela o atravessa com a certeza de que, do outro lado, não há vazio: há ressurreição.
E toda cruz, quando plantada com amor, vira árvore.
Árvore que dá sombra, fruto e abrigo.
Árvore que um dia foi apenas um madeiro áspero nos ombros de uma mulher que decidiu carregá-lo até o fim — e transformá-lo em vida.

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💬 Comentários


Ana Maria (Namaria) em 08/12/2025 15:28

Mais um belíssimo texto, mais um ensinamento que só vc consegue expor...

Valmir em 08/12/2025 10:56

Lindo texto! ❤️

Alessandra em 07/12/2025 22:10

Lindo texto Aline querida! Que sigamos nessa vida reta 🙏💙

Eliza Cancio em 07/12/2025 07:29

Ombros fortes a todos nós. Porque nonguém ou absolutamente nada nessa vida,estão dispostos a aliviar a nossa caminhada. O alívio é Deus! O caminho é Deus,que nos chama a viver o processo.

Ricardo em 06/12/2025 13:30

Perfeito

CYNTHIA DUMAS VIVEIROS em 06/12/2025 13:16

Mais um texto ótimo dela

Jane Heloisa em 06/12/2025 12:27

Lindo o texto,que Deu continue sempre te dando inspiracao e ombros fortes.beijos ,te curto muito.